Continue a nadar...

É difícil colocar em palavras toda a angústia e o conflito que se instauram dentro de mim quando me deparo com a hipocrisia ao meu redor. A vida, por si só, já pode ser implacável em suas provações, e lidar com a doença de meu marido foi uma das experiências mais dolorosas e desafiadoras que já enfrentei. Porém, há uma lição ainda mais antiga e complexa que permeia meu ser: aprender a enfrentar a hipocrisia e permanecer calada diante da adversidade.

Desde sempre, o medo de ser exposta e ter minha intimidade devassada tem sido uma constante em minha existência. Sempre preferi resguardar minha vida, minha casa e meus sentimentos dos olhares curiosos e julgadores. Entretanto, a vida, com sua ironia cruel, encontrou uma forma de me desafiar ainda mais.

Enquanto tentava lidar com a dor da doença de João, vi-me confrontada com a hipocrisia de algumas pessoas ao meu redor. Foi como se, além de carregar o peso da incerteza e do sofrimento, tivesse que suportar também o julgamento alheio. Essas pessoas, que tanto me incomodam e sabem que me incomodam, não fazem ideia da montanha-russa emocional que vivo todos os dias.

Esbravejar tudo o que sinto, deixar sair toda a frustração acumulada, seria um alívio momentâneo, mas também seria abrir portas para que os olhos e os ouvidos curiosos adentrassem minha vida. Então, luto contra essa vontade, prendo minhas palavras no peito e finjo, às vezes com dificuldade, que tudo está sob controle.

Aprendi, durante toda a minha jornada, que nem sempre vale a pena confrontar a hipocrisia. Por vezes, é mais sábio permanecer em silêncio, observando aqueles que julgam sem conhecer as batalhas internas que enfrentamos. Não é uma tarefa fácil, e muitas vezes a sensação é de que o silêncio me sufoca, mas é preciso ser estratégica.

A vida tem seus próprios desígnios, e por vezes nos obriga a conviver com situações que não escolhemos enfrentar. Nesse momento, sinto como se tivesse sido forçada a assistir a um espetáculo grotesco, onde a hipocrisia e a falta de empatia são os atores principais. Então, eu respiro fundo, ergo minha cabeça e continuo minha caminhada, mesmo que tudo dentro de mim grite por justiça.

Nesse momento de dor e incerteza, minha prioridade é cuidar de João e ampará-lo da melhor forma possível. Toda a minha energia é canalizada para nossa luta interna, e não posso me dar o luxo de desperdiçá-la com a hipocrisia alheia.

Ainda que o sentimento de revolta e nojo por algumas pessoas permaneça, busco refúgio no amor que sinto por meu marido e na força que encontramos um no outro para enfrentar esse desafio. A hipocrisia pode tentar se infiltrar em nossas vidas, mas eu escolho me proteger, fortalecer e seguir em frente, dando a cara pra bater, mas sempre com a certeza de que estou fazendo o melhor que posso, mesmo que, às vezes, seja em silêncio.

Comentários

Postar um comentário

Obg por fazer de mim tão especial___

Postagens mais visitadas