Primeiro dia em casa

Hoje é o dia 26 de julho, nosso primeiro dia em casa após cirurgia do meu João. Foi um tempo cheio de acontecimentos, muitos infortúnios e valiosos aprendizados, mas também repleto de medo. A verdade é que, por natureza, não sou alguém que se apoia na fé imediatamente, e enxergar a vitória no primeiro momento é difícil para mim. Gostaria de poder reprogramar essa parte da minha personalidade.

O primeiro dia após a cirurgia foi verdadeiramente aterrorizante. João teve uma reação aos medicamentos e sofreu com taquicardia, descrevendo-a como uma "sensação de morte". Eu corri pelos corredores do hospital em busca de um médico, enquanto em minhas preces pedia a Deus para não levá-lo. Fiquei a noite toda de pé, segurando a mão dele, tentando acalmá-lo, mas ele tinha medo de dormir e não acordar.

Fomos surpreendidos, tanto ele quanto eu, assim como os médicos. Os exames indicavam que o câncer estava restrito ao intestino e que a cirurgia seria tranquila, mas, infelizmente, o câncer já havia se espalhado para a uretra e se encaminhava para a bexiga. Foram quase 7 horas de cirurgia, seguidas por 5 horas de observação na CTI. A médica foi muito clara ao me contar o que aconteceu e o que provavelmente está por vir, mas a única coisa que eu queria saber era se todo o câncer tinha sido removido, considerando esse novo cenário. Ela confirmou que sim. Aquilo foi música para os meus ouvidos.

Nos dias seguintes, o estômago de João rejeitou a alimentação, e o que parecia ser uma recuperação tranquila se tornou um pesadelo. Colocaram uma sonda nasogástrica, e a infecção causada pela comida rejeitada começou a sair. Porém, ele não podia se desnutrir, e foi preciso realizar uma alimentação por via jugular. A médica me tirou da sala e, naquele momento, meu telefone tocou; era meu pai, e ali mesmo desabei em lágrimas com ele... A médica voltou, me abraçou e pediu calma, dizendo que tudo estava sendo feito para o bem do João e que estaria conosco até que tudo ficasse bem. Quando voltei para o quarto, agi como se não tivesse chorado sequer uma lágrima. Tudo foi feito com extremo cuidado, uma ultrassonografia foi feita no pescoço para encontrar a veia, anestesia local e sutura para não perdê-la; os médicos cuidaram pessoalmente disso, os enfermeiros nem puderam participar.

Graças a essa alimentação, que custa uma fortuna e foi custeada pelo SUS, João voltou a ganhar peso, todo o líquido da rejeição foi expelido e ele pôde começar uma dieta por etapas. A cada etapa vencida, crescia em mim a certeza de que Deus, em Sua infinita misericórdia, estava conosco.

Agora estamos em casa, e meu filho está radiante, mas ainda com receio de que os pais "sumam" novamente. A cada ida ao banheiro, ele quer nos acompanhar; sei que esse medo irá passar, pois ele está apenas assustado, nunca havia ficado longe de nós antes. Na próxima semana, temos consulta para retirar os pontos e a sonda, e verificar como será o tratamento daqui para frente.

Mais uma vez, obrigado a todos, com muito amor e carinho. Cada palavra recebida, cada oração intencional feita por nós e cada pensamento positivo que emanaram fizeram toda a diferença. Estamos gratos por tudo.

Nesse momento delicado, percebo o valor da fé e da força que vem de dentro. Aprendi que o amor e o apoio de amigos e familiares são verdadeiramente inestimáveis, assim como a dedicação dos médicos e profissionais de saúde que estiveram ao nosso lado. A vida nos reservou desafios assustadores, mas também nos mostrou que somos capazes de enfrentá-los e superá-los. A jornada ainda é longa, mas estou determinado a seguir em frente com esperança e coragem, pois sei que não estamos sozinhos. Agradeço a Deus por cada pequena vitória e pelas lições que tenho aprendido ao longo desse caminho. Vamos em frente, um passo de cada vez, confiando que a luz guiará nossos próximos passos.

Pollyane Sabino

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