Destino

Não. Essa não é uma história sobre amar outra pessoa, tampouco sobre não amar o meu marido. Essa é uma história de destino. Ao escrever isso corro o risco iminente da mal interpretação, mas sinto que seu não escrever eu vou alagar. Alagar porque internamente eu choro todos dias tentando entender o porquê. Na minha cabeça o destino parecia ter traçado meticulosamente nosso caminho juntos; e do nada chegamos juntos a uma bifurcação, e cada um seguiu por um lado mesmo sabendo que não tinha retorno ou estrada de volta. 

Nossa história começou na pré-adolescência, quando nos víamos todos os fins de semana sem falhar. Naquela época, meus pais já estavam separado, e eu mal podia esperar para o fim de semana chegar, sabendo que passaria perto dele. É claro que minha mãe não sabia que sua filhinha de 13 anos dava selinhos escondidos, mas todos à nossa volta percebiam que tínhamos algo especial. Minha mãe costumava dizer que, quando a hora certa chegasse, ela nos deixaria ficar juntos.
 
Mas nos acostumamos a estar escondidos, coração ensaiava um samba quando chegávamos perto, de escrever ainda sinto. Foi de longe a coisa mais genuína que eu já senti nessa vida por alguém. Pausa para chorar. 

Crescemos juntos, compartilhamos a experiência de perder a virgindade, enfrentamos a dor da perda de sua mãe e passamos por muitas mudanças ao longo do caminho. Nunca rotulamos nos com a frase "estamos namorando", nunca fizemos um pedido formal. Tínhamos um entendimento profundo, um pacto de alma que acreditávamos ser tão evidente que não precisava ser verbalizado. Será que isso foi o que faltou? Essa é uma pergunta que nunca poderei responder.

Ele testemunhou minha jornada de crescimento, minhas ambições e sonhos enquanto ele tinha um desejo peculiar: ficar rico e, surpreendentemente, morrer em um acidente de carro. Eu sempre achei esse desejo da juventude um tanto estranho. 

Na distância, continuamos nossas vidas e nos relacionamos com outras pessoas. Compartilhávamos nossas experiências amorosas, discutíamos sobre nossos novos parceiros, mas sempre mantínhamos a certeza de que, no final, estaríamos juntos novamente. Como sempre, e sempre.

Na manhã de ontem, um domingo escaldante de 2023, enquanto eu lavava meu cabelo, uma lembrança surgiu vívida em minha mente. Lembrei da última vez que liguei para ele, 11 ou 12 anos atrás. Estava sentada no parapeito da varanda da casa em que morava com minha mãe naquela época. Fiz a chamada, sem imaginar que essa ligação marcaria o fim de nossa conexão. A voz do outro lado respondeu com entusiasmo, "O que você quer com ele? Ele vai casar comigo!" Ri, surpresa pela reação inesperada. Ele rapidamente pegou o telefone e acrescentou: "Ela é doida, liga não." Foi a nossa última conversa por telefone. Certamente ela já estava informada sobre quem eu era, como agíamos, meu nome e que, ao longo de toda a nossa vida, ninguém conseguiu nos separar.

Dias depois, ele apareceu inesperadamente na minha casa. Já estava morando sozinha novamente, e a noite estava avançada. Ele entrou com uma expressão séria e determinada. Eu fiquei surpresa, sem saber o que esperar. Sem fazer qualquer pergunta, ele prosseguiu, "Quero casar" "Vamos morar aqui mesmo, nesta kitnet. Não é pequeno demais? Podemos procurar uma casa na zona norte." Eu simplesmente concordei com a cabeça, incapaz de encontrar palavras. Tivemos uma última noite juntos, repleta de amor e sem imaginar de despedidas.

Naquela mesma semana, eu havia acabado de conhecer Fernando, e estava cheia de entusiasmo. Ele era completamente diferente de todos os caras com quem eu havia namorado antes. Era uma mistura de homem do campo com um traço de machismo, chamando as mulheres de "fêmeas". Eu estava determinada a desvendar esse homem intrigante. Com todo esse entusiasmo, não percebi nas entrelinhas o que ele estava tentando me dizer naquela noite. Deixei tudo de lado e mergulhei de cabeça em dias intensos, repletos de viagens deliciosas e mimos por Fernando. Afinal, eu tinha certeza de que, quando houvesse tempo, Léo e eu nos encontraríamos novamente.

Muitas semanas depois, minha mãe, que costumava passar os finais de semana com os amigos, voltou para casa agitada. "Nane, a menina é linda, parece uma doidinha e parece que gosta mesmo dele", ela comentou. Em um tom de superioridade, eu respondi: "E quem não gostaria, não é mesmo? Além disso, ele só se envolve com mulheres bonitas." Minha mãe replicou, pedindo: "Por favor, deixe-o em paz. Deixe-o viver a vida dele. Você nunca vai querer algo sério."

Nessa altura, eu já tinha conhecido Zeca (sim, pessoal, meu coração sempre foi um viajante) e deixado Fernando. Passava todos os meus finais de semana em Mossoró, cumprindo o pedido de minha mãe sem nem perceber. Muitas coisas aconteceram depois disso, meses se passaram, até que decidi mudar para o Rio de Janeiro sem me despedir de ninguém com antecedência. Meus planos iniciais eram voltar em dois ou três meses. 

Foi aí que algo completamente inesperado aconteceu: uma postagem que mudou minha vida. A irmã dele compartilhou uma storie no Instagram com a seguinte mensagem: "Parabéns, meu irmão, hoje é um dia importante ou especial, não lembro agora." E ela marcou a atual esposa dele.

Perdi completamente o chão, a noção e o sentido de quanto tempo havia passado. Nessa época, eu já frequentava a igreja daqui, na verdade comecei a ir assim que cheguei. Chorei copiosamente por vários dias seguidos, e pedia a Deus que mudasse a minha vida de vez. 

E como foram tristes os dias que se seguiram. Meus tios achavam que era saudade de casa.

A realidade se impôs, e eu percebi que havia perdido ele para sempre. Nunca mais o vi, nem mesmo em fotos, exceto pelas que tínhamos juntos. Nunca soube se ele estava feliz, onde trabalhava, o que fazia da vida. Nada. Aquele capítulo de minha vida estava encerrado.

Fecho os olhos e ainda lembro da época em que deitávamos na rede na Granja Paraíso e sonhávamos com nossos filhos correndo naquele alpendre, Filhos que eu nunca quis ter, mas o deixava sonhar. 

Este ano, por um impulso, decidi enviar felicitações a ele pela sobrinha, que por sua vez visualizou a mensagem, mas não respondeu. Então, tomei a decisão de parar de segui-lo nas redes sociais, para não criar falsas expectativas de uma possível resposta ou retorno.

Algumas músicas ainda me transportam completamente para aqueles momentos, e é inevitável. Minha mente às vezes gira em torno do que poderia ter sido, mas que não aconteceu. Tenho muito mais a dizer, mas acho que este texto já está longo demais. Talvez em algum momento no futuro.

Léo, a resposta era sim. Mas você nunca fez a pergunta. E assim, chegamos ao fim desta história.







Comentários

Postagens mais visitadas